‘Agro do Brasil assume protagonismo no mundo crescendo 420% na produtividade em 60 anos e aumento de apenas 47% da área’, diz Tereza Cristina

O programa Canal Rural Entrevista desta terça-feira, 31, recebeu a chefe do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina. No comando da pasta desde o início do governo do presidente Bolsonaro, a ministra falou sobre o crédito rural, sustentabilidade na agropecuária, inflação dos alimentos e também sobre as eleições de 2022.

Confira na íntegra a entrevista exclusiva da ministra Tereza Cristina feita pelo diretor de conteúdo do Canal Rural, Giovani Ferreira, e pela repórter de Política em Brasília Paola Cuenca.

Canal Rural – Produção de grãos próxima de 300 milhões de toneladas. Carnes com 28 milhões de toneladas. Receita cambial com potencial para US$ 120 bilhões. Tudo isso faz com que o agronegócio tenha uma participação decisiva no PIB, respondendo por mais de 30% do total. Podemos dizer que o agronegócio assume um protagonismo histórico no desenvolvimento econômico e social do país?

Tereza Cristina – Com certeza. Mas assume [esse protagonismo] não por acaso. Assume isso depois de 60 anos de pesquisa, de inovação, de muito trabalho em que os produtores rurais hoje vem produzindo cada vez mais, uma alta produtividade, usando menos espaço. Então, nós temos aí o Brasil, nesses últimos 60 anos, crescendo 420% na produtividade e com um aumento de somente 47% da área.

Canal Rural – A safra 2021/2022 começa com expectativa recorde de produção. Porém, já faltam recursos para investimentos. A gente sabe que o ministério pretende reorganizar os créditos entre as linhas de investimento para tentar fazer frente a essa situação. Como será essa redistribuição e quais linhas devem ter prioridade?

Tereza Cristina – Olha, o crédito oficial é sempre menor do que o que a gente gostaria que fosse, principalmente num ano fiscal difícil, com o orçamento apertado como o deste ano. Nós fizemos todo o esforço. Foram colocados R$ 13 bilhões para fazer a equalização dos juros, e esses recursos, hoje, já estão praticamente esgotados, principalmente no que se diz respeito aos investimentos, que é a maior demanda do setor. E com o crescimento da produção, com certeza, nós precisamos de mais investimentos em armazéns, onde nós tivemos aí um grande esforço, foram colocados mais de R$ 5 bilhões em linhas, [recursos] que não acabaram ainda, mas tende a acabar antes do final do ano.

Nós colocamos no Programa ABC que toda a área de sustentabilidade, recuperação de pastagens, introdução em áreas degradadas de agricultura que você precisa de investimentos para melhoria dos solos, recuperação desses solos, para que eles sejam colocados à disposição da agricultura e também de uma pecuária mais intensiva, menos extensiva, enfim, toda a parte de aves, que vem crescendo muito, suínos, então, parte aí das granjas, porque a agroindústria vem crescendo e tem que crescer na mesma proporção da produção. Nós gostaríamos de ter mais recursos, vamos alocando, nós estamos trabalhando olhando mês a mês como é que esses investimentos estão sendo tomados para que, se sobrar em algum lugar, eles possam ser realocados.

Agora, muito importante é dizer que o Ministério da Agricultura vem priorizando os pequenos agricultores, desde o primeiro dia que nós chegamos aqui no governo do presidente Bolsonaro, porque são eles que têm mais dificuldade em tomar esse crédito. [Para] Os grandes, hoje, nós fizemos a modernização do crédito rural, como novas ferramentas mais atrativas para que o mercado coloque recursos, mas os pequenos precisam dessa mão do Estado. E agora que a gente vem fazendo aqui desde o primeiro ano, e este ano, vocês puderam ver, que colocamos quase R$ 40 bilhões à disposição dos pequenos agricultores de todo o nosso país.

Canal Rural – Enquanto a busca por crédito é alta, há produtores que relatam dificuldades de acesso, devido à burocracia com documentos e entraves. O ministério tem algum plano em desenvolvimento com os bancos para facilitar esta tomada de crédito?

Tereza Cristina – Com certeza. O nosso Manual de Crédito Rural é antigo. Ele está sofrendo algumas modificações. Nós temos trabalhado junto aos bancos para diminuir essa burocracia. É claro que, quando você coloca dinheiro público, você tem vários órgãos públicos de controle que fazem a fiscalização do TCU [Tribunal de Contas da União] nesse crédito que é distribuído aos bancos. Então não dá para você, vamos dizer, deixar de ter alguma burocracia, mas nós estamos trabalhando para facilitar e para fazer com que esse crédito chegue mais rapidamente, e vou usar uma expressão um pouco vulgar: com menos penduricalhos.

Porque nós já temos o seguro rural obrigatório, temos o seguro rural privado, que vem crescendo muito que é importantíssimo, mas nós temos fiscalizado, fizemos convênios para que o produtor não tenha que comprar título de capitalização e outras coisas que encarecem o crédito e que tornam também isso mais demorado caso ele não tenha. Isso é proibido por lei. Nós temos trabalhado tanto na facilitação, na desburocratização e também nessa “venda casada”, para que ela não aconteça porque é ilegal. Para isso tem até um canal para você ligar e denunciar.

Canal Rural – O Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) tem sido tratado como prioridade neste Plano Safra. O volume disponível de crédito poderia ampliar a capacidade de armazenagem em mais 5 milhões de toneladas. Porém, isso não é suficiente para suprir o déficit no campo. Como a senhora acredita que o problema pode ser solucionado?

Tereza Cristina – [A solução é] O mercado livre colocar dinheiro, buscar recursos em outras linhas que não as oficiais. Agora, semana passada, nós tivemos um lançamento com o Banco do Brasil, que disponibilizou mais recursos próprios para empréstimo dessa linha tão importante. Eu tenho certeza que o mercado se regula. Grandes empresas que compram produtos como soja, milho, algodão, sorgo, também vendo a necessidade e a oportunidade, com certeza, irão investir. E eles têm outras instituições de onde também podem tomar, tem recursos de fora, tem fundos que podem alocar recursos também para fazer essa armazenagem.

Eu acho que nós estamos melhorando, quer dizer, temos muito ainda o que melhorar na infraestrutura. O governo vem apostando nisso. O ministro Tarcísio [de Freitas, da Infraestrutura] é um parceiraço nosso aqui, então, à medida que infraestrutura vai se estabelecendo através de ferrovias, através da hidrovia, através das rodovias, essas unidades armazenadoras vão se colocando nos lugares onde há demanda por armazenamento.

Nós estamos insistindo com o Banco do Brasil e no crédito oficial na demanda pelos armazéns dentro das propriedades. Porque, quando o produtor tem armazéns que são menores, mas ele pode reter a sua produção, vender na hora certa, sem colocar em armazéns gerais onde ele acaba pagando por esse serviço, e ele acaba vendendo às vezes antecipadamente. Essa é uma outra linha que o Ministério da Agricultura está trabalhando, principalmente, nos recursos do Plano Safra.

Canal Rural – A senhora mencionou a questão do mercado se regular, da tomada de crédito com recursos próprios dos bancos. Nesse sentido, tivemos recentemente a regulamentação dos Fundos de Investimento para o Setor Agropecuário (Fiagro), e, no ano passado, a Lei do Agro, que agora começa a entrar em prática. A senhora enxerga a entrada do mercado privado como algo realmente necessário? E como ficaria essa distribuição do crédito oficial e também do mercado privado para os produtores rurais?

Tereza Cristina – Nós trabalhamos todas essas ferramentas, não só a Lei do Agro, mas também o Fiagro, vamos dizer, foi gestado e discutido dentro do ministério. Para quê? Porque nós precisamos de mais alternativas. No passado, você tinha um engessamento em que só o crédito oficial, só o Plano Safra garantia esses recursos. Hoje, com essa flexibilização e com essas novas normativas, a ideia é essa mesmo, é atrair recursos do mercado de linhas próprias dos bancos mostrando que o agro é um bom negócio. Todo esse crescimento que nós vimos aí, com essas projeções de mais de 300 milhões de toneladas, se Deus quiser, para este ano ou já para o próximo ano com o aumento da safra, com todo esse crescimento nas proteínas de animais, de suínos e aves, todo esse crescimento, com certeza, mostra que é um bom negócio investir e colocar dinheiro no agro. Os bancos todos e o mercado de capitais colocam muitos recursos na área de habitação. Nós queremos concorrer com essa área, porque o agro brasileiro tem mostrado a sua capacidade de crescimento, a sua viabilidade. Com certeza, o mercado todo hoje olha com bons olhos e por isso veem esse crescimento de recursos não oficiais também para ajudar a estruturar esse crescimento da produção brasileira.

Canal Rural – Então, a tendência é que esse crédito oficial fique para os pequenos? 

Tereza Cristina – Com certeza. Essa era a nossa ideia desde o início. A pandemia atrapalhou um pouco, mas a ideia é que cada vez mais o crédito oficial sirva para financiar aqueles que têm mais dificuldades e que precisam de políticas públicas do governo chegando até eles.

Canal Rural – Analisando a economia de forma mais ampla, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reduziu a projeção do PIB agropecuário para 2021 de 2,6% para 1,7%, o que deve deixar o crescimento de 2021 abaixo de 2020, ano de maior crise da pandemia. A senhora acredita que essa porcentagem pode melhorar, o cenário pode ser revertido ainda nos próximos meses? 

Tereza Cristina – Isso é uma estimativa. Eu acho que agora tem que acompanhar e vamos verificando ao longo [do tempo] se ela volta ao que estava ou se vai ficar entre a projeção atual e a passada.

Canal Rural – No mês passado a senhora participou da Pré-Cúpula dos Sistemas Alimentares, em Roma. Na pauta do Brasil, as iniciativas para combater a fome e promover a agricultura sustentável. Qual sua expectativa para a cúpula definitiva, em setembro, em especial, com relação à carta que será publicada pelo secretário-geral da ONU?

Tereza Cristina – Foi muito importante a participação não só do Brasil, mas de todos os países da América, porque tivemos o mesmo entendimento. Você não pode ter um sistema de produção, como hoje a Europa tem, completamente diferente do que nós, aqui das Américas, temos. O encurtamento das cadeias, você produzir muito próximo de onde você vai consumir, é importante? É. Mas nós não podemos ter um único modelo. Esse único modelo não serve para todo o mundo.

Então, foi colocada a nossa posição, principalmente dos países do Hemisfério Sul, principalmente em relação à pecuária, porque existem hoje algumas correntes querendo diminuir o consumo de carne. Enfim, nós temos que ter equilíbrio em tudo. Nós não somos nem a favor de um excesso de consumo, nem a mínimo. Nós temos que ter equilíbrio nas dietas de todos os continentes, e respeitando também a regionalização e a parte cultural de cada povo.

Canal Rural – Ainda nesse contexto, em novembro acontece a COP 26 – 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na Escócia. Como o Mapa está se preparando para esse evento? Como o Brasil pretende ser visto e como deve se posicionar perante a comunidade internacional? Além disso, a senhora estará presente no evento?

Tereza Cristina – Vou começar pelo fim da pergunta. Eu não sei se poderemos estar presentes. Hoje, com o problema da pandemia, nós temos dificuldades quanto à acomodação em Glasgow [na Escócia], enfim, uma série de problemas de deslocamento e logística, mas com certeza, nós estaremos, ou aqui ou lá, porque o Brasil terá aqui um estúdio, outro lá, mostrando os cases. E o Ministério da Agricultura vai com certeza, e nós temos muito o que mostrar. O Brasil é um país que trabalha a sustentabilidade já há muito tempo, então nós temos aí cases de sucesso, nós temos a nossa agricultura tropicalizada, nós temos aí duas ou três safras na mesma área todos os anos, nós temos aí uma série de cases. Nós temos integração lavoura-pastagem-floresta, nós temos um Código Florestal para o agro muito robusto.

Apesar de a Europa também estar trabalhando na modificação de soluções da sua sustentabilidade, do seu meio ambiente, o Brasil já faz isso há muito tempo. E temos problemas. Hoje, a agricultura vai mostrar uma série de coisas, inclusive, eu vou dizer aqui para vocês em primeira mão: nós vamos lançar logo, logo, acho que daqui há um mês, um programa muito robusto e interessante, uma política pública fundamental para o agro, que são as Águas do Agro, que é a conservação e a preservação da água dentro das propriedades rurais, já que os produtores rurais tem quase 25% de toda a vegetação nativa dentro das suas propriedades. E agora nós vamos incentivar, colocar políticas, para preservação de água e solo também dentro das propriedades.

Canal Rural – O agronegócio vive um bom momento no mercado internacional. A soja brasileira lidera de forma absoluta, e há também um protagonismo das carnes. O recente status de livre de febre aftosa sem vacinação conquistado por alguns estados vai impulsionar esse mercado?

Tereza Cristina – Eu acho que sim, principalmente nas carnes de suínos, que são as mais impactadas, por incrível que pareça, por esse status de livre da aftosa sem vacinação. O Paraná foi um dos estados que correu muito, fez muita força e conseguiu junto à OIE [Organização Mundial da Saúde Animal] esse status. Por quê? Porque tem grandes investimentos na área de suínos. E nós temos países que importam carne de suínos, e que são muito exigentes e que pagam melhor por essas carnes, que exigem esse status. No mercado de suínos, nós tínhamos só Santa Catarina [livre de aftosa sem vacinação] até agora, e hoje nós temos Rio Grande do Sul e Paraná, temos Rondônia, temos outros estados que também entraram nesse circuito com a carne bovina, que, com certeza, deverão agregar valor e atingir mercados mais exigentes.

Canal Rural – Este ano a carne suína deve estabelecer um novo recorde de exportação. No ano passado, foram cerca de 900 mil toneladas, e agora há grandes chances de superar 1 milhão de toneladas de carne suína embarcadas. Só que existe uma “assombração”, que é a peste suína africana. Como o ministério tem olhado para isso e se preparado para essa situação? Há algum plano de prevenção?

Tereza Cristina – Com certeza. Faz parte aqui dos meus pesadelos. O Brasil é livre de peste suína africana e assim nós queremos continuar. Nós tivemos uma notícia preocupante que foi essa doença chegando aqui nas Américas através da República Dominicana, então, todas as nossas luzes vermelhas foram acessas e hoje nós temos um plano de contingência, de prevenção. O Brasil não tem peste suína africana. Não mudem aqui a minha fala. Mas nós fizemos um grande programa, e estamos fazendo fiscalizações, um pente-fino mesmo, nos portos, aeroportos e nas entradas que temos também via terrestre nas nossas fronteiras.

Canal Rural – Existe alguma previsão para que outros estados brasileiros obtenham esse status de livre de febre aftosa sem vacinação?

Tereza Cristina – Sim. Já começamos. Nós temos aí o segundo bloco, que inclusive mais estados brasileiros estão nos pedindo para aderir. A Secretaria de Defesa Sanitária está trabalhando para desenvolver [o projeto] com esses outros estados que querem aderir. Mas isso leva no mínimo dois anos, porque tem todo um planejamento junto à OIE, que é no final quem te dá esse status. Já começaram, mas precisa toda uma adequação dos sistemas estaduais de defesa. O ministério cria o plano e depois vai lá fiscalizar e ver se está sendo executado. Mas quem trabalha isso na verdade são os estados que estão aí nesse programa.

Canal Rural – É muito importante a iniciativa dos estados?

Tereza Cristina – Sim. Sem eles, nada acontece. Se não houver vontade política e um trabalho intenso das secretarias nessa área de defesa, o estado não consegue. Não adianta o ministério querer se não houver isso. É preciso uma parceria muito firme, muito sólida, para que isso aconteça, entre estado e União.

Canal Rural – Enquanto no mercado externo nós temos indicadores positivos, no mercado interno a inflação dos alimentos é algo que preocupa atualmente. Qual é o trabalho que tem que ser feito para que o produtor, o agronegócio, não seja apontado como o vilão do aumento no preço dos alimentos?

Tereza Cristina – Eu costumo dizer o seguinte, que o papel do Ministério da Agricultura e o do produtor rural é produzir, e criar uma oferta maior. Você só tem preços menores se você tem uma oferta. A escassez traz preços altos, mas hoje o nosso problema no Brasil não é a escassez de produtos. Eu posso garantir, como eu disse lá no início da pandemia, que não vão faltar alimentos para os brasileiros. Mas nós temos aí hoje um mercado internacional muito ativo, muito importador de alimentos do mundo todo, e o Brasil é um desses países. Mas o nosso mercado interno está abastecido, e esse aumento da nossa produção mostra que nós vamos ter maior oferta, portanto, esses preços devem se equilibrar.

Aí tem outras variáveis como câmbio, que trazem esse aumento dos preços dos produtos. Mas a oferta continua alta e nós vamos, neste ano, se tivermos no período  de setembro a janeiro chuvas suficientes para essa produção, nós devemos ter, pelas estimativas, recordes. A safrinha é a nossa maior preocupação, porque este ano tivemos uma frustração. [Vamos] Torcer para que na safrinha também tenhamos aumento de área e uma produção alta, para poder fazer o abastecimento suficiente de grãos e quebrar essa barreira, se Deus quiser, dos 300 milhões [de toneladas]. Não é fácil, mas a gente torce. É possível, mas precisa dar tudo certo para a gente chegar nesse número recorde.

Canal Rural – Nesse sentido, o ministério está tendo algum plano, conversando com o Ministério da Economia e até mesmo com o Palácio do Planalto, de alguma ação para tentar frear o aumento dos alimentos? Talvez redução da Tarifa Externa Comum (TEC), como foi feito no ano passado?

Tereza Cristina – Sim. A agricultura brasileira hoje é uma agricultura que senta na mesa dos grandes, porque com o tamanho da nossa produção, a gente trabalha nessa mesa aí dos grandes. Nós temos conversado direto com a Economia, com o Palácio [do Planalto], nas reuniões ministeriais, falando sobre esse assunto que é um assunto que preocupa o presidente da República. Vamos dizer, o produtor está bem, mas nós temos também que ter o consumidor, primeiramente, abastecido. Isso nós estamos fazendo, mas precisamos de um equilíbrio entre esses preços e renda. Na verdade, a retomada da economia, dos empregos, é que pode trazer também esse equilíbrio. Quanto mais gente empregada, quanto mais pessoas com renda, para poder comprar os alimentos e aí essa inflação, que não depende só dos alimentos, nós temos outras variáveis que têm aumentado a inflação, por exemplo, hoje infelizmente a conta de luz por essa grave crise hídrica que nós estamos vivendo, que independe da [nossa] vontade. Isso aí, infelizmente, tem trazido preocupação na inflação do Brasil.

Canal Rural – A crise hídrica deve ter reflexos no agro. Como o ministério vem monitorando isso? A hidrovia do Tietê-Paraná deve ser paralisada, mas existe também algum risco para a irrigação? 

Tereza Cristina – Nós temos acompanhado isso também muito de perto. Eu faço parte do comitê que cuida da crise hídrica. O Ministério da Agricultura faz parte e tem se reunido semanalmente. Nós temos monitorado todo esse problema meteorológico muito de perto. Nós temos o Inmet [Instituto Nacional de Meteorologia] fazendo previsões, estimativas, sobre chuvas. Enfim, é preocupante. A irrigação realmente é o que mais sofre, que pode sofrer. A Agência Nacional de Águas (ANA) tem, por enquanto, previsões de que o problema hoje é mais na produção energética do que nas irrigações. Você tem alguns lugares em que as pessoas já estão trabalhando para irrigar de maneira mais pontual, mais fracionada, para poder utilizar essa água, porque todo mundo sabe que nós estamos vivendo um momento de seca.

Mas, na agricultura, na grande maioria da nossa produção, é feita dependendo das chuvas. Então, não é um problema que atinge toda a agricultura, mas um setor que irriga principalmente algumas culturas como o feijão. Tem muita coisa irrigada, nós temos as hortaliças, nós temos fruta, nos preocupa as culturas semi perenes como café, frutas, que nós temos aí algumas áreas que são irrigadas e que dependem disso para produzir. Então, tem um sinal amarelo e tá todo mundo trabalhando da melhor forma possível para utilizar também essa água nas horas certas e em quantidades suficientes, mas não sem, vamos dizer, uma conscientização que já existe, que nós vamos precisar economizar água.

Canal Rural – O STF iniciou o julgamento sobre a questão das demarcações de terras indígenas. O tema gera preocupação aos produtores rurais, principalmente no aspecto de possível mudança do marco temporal. Qual sua avaliação sobre uma possível insegurança jurídica que uma mudança possa trazer para os proprietários de terras?   

Tereza Cristina – [A preocupação é] Muito grande, porque se esse marco de 1988, que está na Constituição, não for reafirmado, é uma coisa que trará, já está trazendo, uma grande insegurança para o campo. Eu espero que o Supremo [Tribunal Federal] as pessoas que estão lá, que conhecem tanto a parte jurídica quanto a parte econômica, que tudo isso seja colocado na hora da votação, e eu espero que o bom senso prevaleça.

Canal Rural – O ministério criou o projeto de lei que institui o autocontrole sanitário para a defesa agropecuária. O relator na Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), apresentou um substitutivo com algumas mudanças. Diante dessa mudanças, quais são as expectativas de como deve ficar essa questão do autocontrole e da fiscalização?

Tereza Cristina – O autocontrole é uma evolução. O Brasil hoje, com todo esse crescimento que nós acabamos de falar aqui, 27% das proteínas, principalmente as proteínas, ele é para tudo. São 19 segmentos e produtos que serão feitos através do autocontrole. Porque, quando se fala em autocontrole, você lembra logo de frigoríficos. Não são só frigoríficos. Mas é uma evolução. Nós não temos pernas para fazer toda essa fiscalização, e o que o ministério vai fazer é o que ele tem excelência, que é fazer a auditoria dos protocolos e dos processos que as empresas vão colocar.

Se eu sou uma empresa que exporto ou que faço um mercado específico ou faço mercado só interno, eu tenho lá um protocolo. Eu faço esse protocolo e o que o ministério vai fazer? Eu tenho lá os veterinários, a equipe interna para fazer essa fiscalização e esse acompanhamento, e o ministério vai lá auditar, ver se realmente o que aquele protocolo diz a empresa está fazendo. E outra coisa: quem é o dono da marca é que tem que cuidar e zelar pelo seu nome. Então, se a marca tem um nome e ela quer permanecer no mercado, vai ter que ter excelência nos seus protocolos.

Toda mudança cria algumas reações. Eu não vi ainda o relatório final do deputado Domingos Sávio, mas eu sei que de vez em quando ele tem conversado com o pessoal da Defesa [Secretaria da Defesa Agropecuária]. Isso é uma iniciativa do governo federal, do Ministério da Agricultura, porém o Congresso está discutindo, debatendo, fez várias audiências públicas com os diversos setores para aprimorar esse projeto de lei do autocontrole, e eu espero que ele passe rapidamente, porque eu acho que é um avanço para o setor privado, o setor que produz no nosso país. E o ministério vai ter mais tempo para fazer essa fiscalização e esse acompanhamento.

Canal Rural – A senhora mencionou que deve deixar o ministério em abril de 2022 para voltar a atenção ao processo eleitoral. O presidente Jair Bolsonaro disse ao Canal Rural que a senhora é quem deve indicar o sucessor. Já está definido quem será? A senhora deve concorrer para qual cargo em 2022?

Tereza Cristina – Eu sou deputada federal. Estou licenciada aqui no Ministério da Agricultura. Portanto, o meu caminho é voltar, e como a legislação prevê, eu tenho que sair do ministério até o dia 30 de março. Dia 2 de abril é o prazo final. Éé claro que eu vou deixar o ministério para voltar para a minha carreira política para concorrer a algum cargo no meu estado. Nós estamos lá debatendo [a qual cargo concorrerá], ou deputada federal ou ao Senado, enfim, alguma coisa por aí. Mas, sobre esse assunto, eu fui pega de surpresa pelo presidente. Vou conversar com ele em breve sobre isso. Não é ainda um assunto que está em cima da nossa mesa aqui e da nossa pauta.

Canal Rural – Nesses próximos meses, qual a mudança ou projeto que a senhora gostaria de ver implementado nessa etapa final da sua gestão frente ao Ministério da Agricultura?

Tereza Cristina – Olha, tem muita coisa em andamento. Eu acho que a gente não tem aqui que inventar mais nada. Nós temos que concluir todos os processos que foram iniciados nesses dois anos e meio em que estou à frente desta pasta. Eu gostaria de ver toda a parte de inteligência estratégica, o monitoramento de preços, as previsões, o planejamento para 2030 e 2050 do que é que vai ser a nossa agricultura e pecuária, tudo isso pronto. Eu também gostaria de ver Águas do Agro lançado e deixar isso como uma política pública, o autocontrole, enfim, tudo aquilo que a gente plantou, a melhoria do crédito. Temos aí algum tempo para trabalhar um pouco mais algumas coisas que da medida provisória da Lei do Agro precisam ainda de alguns ajustes. Eu acho que nós temos que terminar esse legado.

E também, uma grande preocupação minha, é regularização fundiária. Entregar os títulos definitivos, que foi uma das missões que o presidente me deu e que eu gostaria muito de poder [concluir]. Neste ano temos orçamento para isso, poder caminhar e entregar títulos definitivos por todo o Brasil, não só na região Norte, mas [também] na região Nordeste, na região Centro-Oeste, enfim, onde nós tivermos títulos definitivos que possam ser entregues, e também arrumar os assentamentos, que ainda temos aí muitos para entregar água. Enfim, é um processo longo mas que eu gostaria muito de ver concluído através do nosso Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária].

Soja brasileira deve continuar lucrativa em 2022, diz Datagro

A soja brasileira deve continuar lucrativa na próxima safra. Segundo um levantamento da consultoria Datagro, os ganhos deverão ser apenas um pouco abaixo dos excelentes desempenhos do ciclo atual.

Segundo a consultoria, pesam a favor de um bom resultado financeiro em 2022 “a perspectiva de boa produtividade média, em virtude do bom nível tecnológico e do clima ainda predominantemente regular em tempos de La Niña fraco”

De acordo com o coordenador de Grãos da Datagro, Flávio França Junior, por enquanto, o prognóstico de clima indica um La Niña para o final do ano. “Pegaria o verão no Brasil. O fenômeno, a principio, seria de fraca intensidade e rápido. Com isso, a gente fica sem uma previsão definitiva de clima. Por enquanto, nós não temos nenhuma anomalia prevista para safra de verão. E por isso trabalhamos com um cenário de normalidade”, explica.

Sobre a produtividade, França Junior diz que as lavouras não devem ter um desempenho “excepcional”, mas dentro de um padrão de normalidade. “O mercado ainda vai estar bem remunerador”, diz.

Segundo o coordenador da Datagro, o grande problema da nova safra será o custo de produção. “Os custos estão aumentando de forma generalizada, não é resultado apenas da taxa de câmbio. Neste ano, nós percebemos um aumento geral nos custos fixos, nos insumos, nas sementes. É um ponto limitante. Mas não é um impeditivo para um resultado positivo para soja. Se ele tiver uma boa colheita, terá um resultado positivo, mas abaixo do ciclo atual”, afirma.

Soja brasileira deve continuar lucrativa em 2022, diz Datagro

A soja brasileira deve continuar lucrativa na próxima safra. Segundo um levantamento da consultoria Datagro, os ganhos deverão ser apenas um pouco abaixo dos excelentes desempenhos do ciclo atual.

Segundo a consultoria, pesam a favor de um bom resultado financeiro em 2022 “a perspectiva de boa produtividade média, em virtude do bom nível tecnológico e do clima ainda predominantemente regular em tempos de La Niña fraco”

De acordo com o coordenador de Grãos da Datagro, Flávio França Junior, por enquanto, o prognóstico de clima indica um La Niña para o final do ano. “Pegaria o verão no Brasil. O fenômeno, a principio, seria de fraca intensidade e rápido. Com isso, a gente fica sem uma previsão definitiva de clima. Por enquanto, nós não temos nenhuma anomalia prevista para safra de verão. E por isso trabalhamos com um cenário de normalidade”, explica.

Sobre a produtividade, França Junior diz que as lavouras não devem ter um desempenho “excepcional”, mas dentro de um padrão de normalidade. “O mercado ainda vai estar bem remunerador”, diz.

Segundo o coordenador da Datagro, o grande problema da nova safra será o custo de produção. “Os custos estão aumentando de forma generalizada, não é resultado apenas da taxa de câmbio. Neste ano, nós percebemos um aumento geral nos custos fixos, nos insumos, nas sementes. É um ponto limitante. Mas não é um impeditivo para um resultado positivo para soja. Se ele tiver uma boa colheita, terá um resultado positivo, mas abaixo do ciclo atual”, afirma.

Ipea reduz para 1,7% projeção de crescimento do PIB Agropecuário

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para baixo as estimativas para o PIB Agropecuário brasileiro. Enquanto em junho a projeção era de um crescimento de 2,6% neste ano, agora a previsão é de um crescimento de 1,7%.

nova previsão foi divulgada nesta quinta-feira, 26, durante um evento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De acordo com o Ipea, mesmo com a revisão, 2021 será o quinto ano de crescimento consecutivo do setor, o único da economia brasileira que não sofreu redução em 2020.

Ainda segundo o instituto, o ajuste na projeção foi motivado pela redução nas estimativas de produtividade e produção de culturas importantes — como a do milho –, e pela piora do cenário para a produção de bovinos.

Produção

Em 2021, a previsão de crescimento é sustentada pelas altas nas produções de soja (9,8%), trigo (36%) e arroz (4,1%). O bom desempenho das culturas compensou as quedas no milho (-11,3%), cana-de-açúcar (-3,2%) e café (-21,0%).

Na produção animal, o crescimento foi revisto de 2,5% para 1,8%, com crescimento para todos os segmentos: suínos (7,7%), frangos (3,9%), leite (3,1%) e ovos (4,5%). A exceção é a produção de bovinos, com queda de 1%.

2022

Com base nas primeiras informações disponibilizadas pela Conab, pesquisadores do Ipea estimam um crescimento de 3,3% no PIB do setor em 2022, com crescimento de 3,9% na produção vegetal e de 1,8% na produção animal.

De acordo com a Conab, há expectativa de manutenção do bom desempenho da produção de soja, que deverá bater novo recorde em 2022, e de boa recuperação de culturas como milho e algodão, após a forte queda projetada para este ano. Além disso, o abate de bovinos deverá, enfim, registrar recuperação após dois anos consecutivos de queda.

“Esperamos uma recuperação da oferta de bovinos no ano que vem, tendo transcorrido tempo suficiente para a recomposição do rebanho após o pico em 2019”, disse Pedro Garcia, pesquisador associado do Ipea e um dos autores do estudo.

 

Fonte: Canal Rural

Agronegócio registrou superávit de US$ 10,1 bilhões em julho, aponta Ipea

Exportações

Apesar das quebras recentes na produção das culturas em período de colheita, com destaque para o milho de segunda safra, o agronegócio brasileiro registrou em julho saldo comercial positivo de US$ 10,1 bilhões, conforme dados compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Com isso, o superávit comercial acumulado de janeiro a julho somou US$ 64,045 bilhões, alta de 19,9% ante igual período de 2020. Os preços elevados têm garantido o crescimento, apesar da queda nas quantidades vendidas.

Segundo o estudo do Ipea, “julho foi um mês de acomodação das exportações”, após alguns dos principais produtos agrícolas vendidos pelo Brasil no exterior, como “café, açúcar, algodão e carne suína”, terem “alcançado um volume recorde de exportações ao longo do primeiro semestre de 2021”. Isoladamente em julho, os produtos com maior destaque nas exportações foram a soja, que teve safra recorde este ano, as carnes, o açúcar e o café, segundo o Ipea.

As exportações da agropecuária somaram US$ 72,703 bilhões no acumulado de janeiro a julho.

Grãos

O complexo soja (grãos, farelo e óleo) é o principal produto da pauta, com US$ 34,188 bilhões exportados nos sete primeiros meses do ano, salto de 24,4% ante igual período de 2020. Segundo o Ipea, “no acumulado do ano, o complexo soja segue com queda de 3,3% em volume e aumento de 24,4% em valor, o que é resultado do aumento de 28,6% nos preços médios do grão”.

No caso do milho, “a queda na produção doméstica decorrente de problemas climáticos” já limita “a capacidade exportadora do Brasil”, segundo o Ipea – embora, diferentemente da soja, “grande parte do que é produzido internamente é utilizada no mercado doméstico”. Com a seca e as ondas de frio, as exportações de milho em julho tombaram 36,4% em valor e 50,2% em quantidade diante do mesmo mês de 2020. O quadro só não foi pior porque, conforme o Ipea, o preço médio recebido pelo exportador de milho teve alta de 27,6% em julho ante julho de 2020 – no acumulado de janeiro a julho, o crescimento nos preços médios é de 22,2%.

Carnes

Já as carnes estão com desempenho divergente. As vendas de carne bovina ao exterior, no acumulado dos sete primeiros meses do ano, caíram 3,3% ante 2020, mas avançaram 8,5% em termos de valores. Isso porque os preços médios saltaram 31,9%, na mesma base de comparação. “O exportador de carne bovina tem enfrentado, além da baixa oferta de boi acabado (pronto para abate) no Brasil, dificuldade para a obtenção de contêineres para escoar seu produto”, diz o relatório do Ipea.

A dinâmica da produção de carne bovina no Brasil – segundo maior produtor e maior exportador mundial, segundo o Ipea – vem sendo marcada, nos últimos anos, pela peste suína africana (PSA), que a assola os rebanhos na China e países vizinhos desde 2018. Com a doença, quedas expressivas na produção chinesa de carne suína têm levado o gigante asiático e aumentar, e muito, suas compras de outros países. O Brasil é o fornecedor preferencial. Essa dinâmica tem feito os preços de carne bovina explodirem, tanto no mercado internacional quanto no mercado doméstico.

“A queda na oferta doméstica (de carne bovina no Brasil), observada desde 2020, continua se refletindo nos preços. Em julho, o preço médio de carne bovina embarcada chegou a US$ 5.280/t, contra US$ 4.003/t do mesmo mês em 2020 – o equivalente a um aumento de 31,9%”, diz o relatório do Ipea.

As exportações de carne de frango e de suíno têm dinâmica diferente porque há menos problemas relacionados à oferta de animais – aves e suínos têm ciclo de crescimento e abate bem menor do que o de bovinos.

Segundo o Ipea, o frango foi o segundo produto da pauta de exportação que apresentou a maior variação positiva em valor (47,3%) em julho diante do mesmo mês do ano anterior. A alta foi puxada por um crescimento de 15,4% em quantidade e de 27,6% no preço médio, na mesma base de comparação. No acumulado do ano, os dados também são positivos, com altas de 15,1%, 7,4% e 7,2%, respectivamente.

“O bom desempenho reflete o aumento da participação de novos destinos. Parte deles, como México, Filipinas e África do Sul, aumentou suas importações como consequência de problemas sanitários domésticos ligados a doenças no rebanho. Os embarques para esses países não só lideraram o aumento das exportações como também contribuíram para resultados acima dos obtidos no acumulado do ano”, diz o relatório do Ipea.

O café também foi afetado pelas geadas recentes, mas seu comércio exterior segue mais a dinâmica de estoques e preços internacionais, já que o impacto maior do clima na produção ficará para 2022. Em julho, segundo o Ipea, as exportações do grão caíram 15,9% na quantidade e 1,2% no valor em relação ao mesmo mês de 2020 – houve aumento de 17,5% no preço médio. No acumulado do ano, o café apresentou alta de 12,8% no volume embarcado e de 15,2% em valores, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Fonte: Canal Rural

Milho e soja estão dando ao Brasil liderança no mercado Internacional de grãos

Agronegocio

Durante a Abertura Nacional da Colheita do Milho, realizada nesta quinta-feira, 22, o ex-ministro da Agricultura, presidente-executivo da Abramilho e primeiro brasileiro indicado ao Prêmio Nobel da Paz, Alysson Paolinelli, falou sobre as perspectivas para a safra que se inicia.

“Os produtores devem se aprimorar para a próxima safra, vamos plantar mais. O mundo precisa do milho brasileiro e nós não podemos falhar. Se esse ano tivemos problemas com clima, para a próxima safra esperamos que ele não interfira”.

Paolinelli também falou da importância dos principais grãos produzidos no país. “Quero parabenizar os produtores de soja e milho do Brasil. Essa dobradinha da soja e do milho está dando ao país uma liderança muito grande no mercado Internacional de grãos”, ressalta.

Fonte: Canal Rural

Exportações de milho do Brasil podem atingir menor volume em 10 anos

Exportações

O cenário de escassez de milho no Brasil reflete em resultado negativo nas exportações. No acumulado do ano até a terceira semana de julho, as exportações de milho somam apenas 4,28 milhões de toneladas, um número bem abaixo das 34,4 milhões de toneladas embarcadas em 2020.

Diante da quebra na segunda safra, que ficou acima de 20%, o desafio é saber se o Brasil terá capacidade para atingir a marca de 20 milhões de toneladas exportadas. Caso não consiga, o país deve registrar a menor marca desde 2012, quando foram embarcadas pouco mais de 19 milhões de toneladas.

No sentido contrário, as importações do cereal mostram uma tendência de alta. No acumulado do ano até a terceira semana de julho, as compras de milho somam 1 milhão de toneladas. Com isso, o Brasil deve superar a marca das importações do ano passado, quando o volume adquirido chegou a 1,37 milhão de toneladas.

Soja segue batendo recorde

Se para o milho o resultado das exportações é fraco, o mesmo não acontece com a soja. No acumulado do ano, as vendas da soja em grão somam 63,11 milhões de toneladas, aumentando a chance de bater a quantidade comercializada durante todo o ano de 2020, que foi de com 82,9 milhões de toneladas.

Outro destaque é a receita cambial com as exportações de soja. Com a apreciação do dólar e desvalorização do real ante a moeda norte-americana, a receita cambial com as exportações de soja chega a US$ 27, 3 bilhões no acumulado do ano até a terceira semana de julho, valor próximo os US$ 28 bilhões obtidos no decorrer de 2020

Farelo de soja pode ter resultado inédito

O Brasil pode bater um recorde também nas exportações de soja em 2021. Com 9,2 milhões de toneladas embarcadas até a terceira semana de julho, o país caminha para superar as 16,9 milhões de toneladas exportadas no ano passado e deve alcançar o patamar das 17 milhões de toneladas de farelo.

Milho e soja continuam em queda

Milho

Milho: tendência de queda permanece no mercado brasileiro

O indicador do milho do Cepea teve um dia de baixa dos preços e chegou ao nono dia consecutivo de queda. A cotação variou -0,62% em relação ao dia anterior e passou de R$ 94,88 para R$ 94,29 por saca. Apesar disso, no acumulado do ano, o indicador valorizou 19,89%. Em 12 meses, os preços alcançaram 100,79% de alta.

Os contratos futuros do milho negociados na B3 tiveram quedas ainda maiores que nos últimos dias, seguindo movimento de Chicago e do dólar em relação ao real. O vencimento para julho passou de R$ 92,16 para R$ 89,98, do setembro caiu de R$ 94,70 para R$ 90,84, e o para março de 2022 recuou de R$ 97,95 para R$ 93,89 por saca.

Soja: cotação despenca e chega ao menor nível desde final de fevereiro

O indicador da soja do Cepea para o porto de Paranaguá (PR) teve um dia de baixa dos preços e chegou ao menor valor desde o dia 25 de fevereiro. A cotação variou -1,63% em relação ao dia anterior e passou de R$ 169,41 para R$ 166,65 por saca. Ainda assim, no acumulado do ano, o indicador valorizou 8,28%. Em 12 meses, os preços alcançaram 53,93% de alta.

Em Chicago, o mercado também teve queda forte seguindo a tendência observada em grande parte da semana passada. A principal pressão segue sendo do clima, com previsão de chuvas no Meio Oeste dos Estados Unidos. O vencimento para novembro recuou 3,02% e passou de US$ 14,386 para US$ 13,952 por bushel.

Café: baixa em Nova York reflete no Brasil

De acordo com a consultoria Safras & Mercado, o recuo observado nas cotações do café arábica em Nova York refletiu nas principais praças brasileiras. No sul de Minas Gerais, o arábica bebida boa com 15% de catação caiu de R$ 840/845 para R$ 820/825, enquanto que no cerrado mineiro, o bebida dura com 15% de catação passou de R$ 850/855 para R$ 830/835.

Em Nova York, as cotações do café arábica recuaram pelo segundo dia consecutivo e se afastaram ainda mais do patamar de US$ 1,60 por libra-peso. O vencimento para setembro caiu 2,13% na comparação diária e passou de US$ 1,596 para US$ 1,562. O mercado esteve pressionado negativamente pelas notícias de chuvas em regiões produtoras no Brasil nos últimos dias.

Fonte: Canal Rural 

Produção de cana na safra 2021/22 deve ser 4% menor, indica Conab

Cana

As quedas no etanol e açúcar devem ser ainda maiores em relação ao ciclo 2020/21, de acordo com a companhia.

O Brasil deve produzir 628,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2021/22, cuja colheita foi iniciada em abril, volume 4% menor em comparação com 2020/21. A informação é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que divulgou nesta terça-feira a primeira estimativa para a safra 2021/22.

Segundo a Conab, “a queda é explicada pela redução de 3% na área de colheita no Sudeste, principal região produtora do país, com 5,2 milhões de hectares, e decréscimo de 6,2% na produção, prevista em 402,2 milhões de toneladas. O Centro-Oeste também diminuiu em 0,8% a área destinada à cultura, atingindo 1,8 milhão de hectares para um total de 137,5 milhões de toneladas de cana, 1,6% menor que a obtida na safra anterior”.

Na região Nordeste, mesmo com 0,5% a menos de área, há estimativa de crescimento de 3,2% na produtividade média, o que deverá resultar em 49,7 milhões de toneladas, 2,7% maior que na última safra. O Sul seguiu a tendência, com redução de 2,1% na área, mas crescimento de 2,5% na produção, estimada em 35,1 milhões de toneladas. Já o Norte deve manter a área e aumentar 3,3% a colheita da cultura, com 3,6 milhões de toneladas.

A Conab explica que, a partir da safra 2019/20, além das estatísticas totais de etanol proveniente da cana-de-açúcar, o levantamento passou a considerar também informações do produto à base de milho. Para esta safra, somando os dois tipos, o total previsto para o etanol é de 30,5 bilhões de litros, com redução de 6,84% em relação à safra passada, sendo 27 bilhões de litros da cana e 3,5 bilhões de litros a partir do milho. Para este último, o 1º levantamento aponta que a expansão deve continuar, com aumento de 15,85% em relação à safra passada.

Para o açúcar, é estimado 38,9 milhões de toneladas, redução de 5,71% em relação ao período anterior. A previsão do ATR médio da cana-de-açúcar, que representa a capacidade de converter a matéria-prima em açúcar ou etanol, é de 138,9 kg/toneladas.

Safra 2020/21

A Conab argumenta que, em virtude da pandemia, foi adiado o estudo da safra de cana e, com isso, a divulgação referente ao 4º levantamento de cana-de-açúcar para 2020/21, encerrada no último mês de março, saiu também nesta terça-feira, 18, junto com o 1º levantamento da safra atual.

A pesquisa mostrou que o volume de cana-de-açúcar neste ciclo totalizou 654,8 milhões de toneladas, 1,8% superior ao de 2019/20. Tal crescimento não acompanhou o aumento de 2,1% na área colhida por causa das condições climáticas adversas em algumas regiões produtoras.

O Sudeste manteve seu alto padrão, alcançando 428,6 milhões de toneladas colhidas, indicando acréscimo de 3,3% em comparação com 2019/20, sendo São Paulo e Minas Gerais os grandes destaques da região. Centro-Oeste também apresentou leve crescimento de 0,2% na área colhida, atingindo 1,8 milhão de hectares, redução de 0,6% na produtividade média e produção 0,5% inferior ao ciclo que a antecedeu, chegando a 139,8 milhões de toneladas. A região Nordeste colheu 48,4 milhões de toneladas, representando redução de 1,4% e o Sul seguiu a redução, com 2,3% a menos de área e colheita de 34,2 milhões de toneladas. Nesta safra, o Norte foi responsável por menos de 1% da produção nacional, a área cultivada apresentou leve acréscimo em relação à safra 2019/20 e a produção total foi de 3,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

O 4º levantamento também sinalizou o milho com papel de destaque na produção de biocombustível, gerando sustentabilidade aos produtores, particularmente os situados nos estados centrais. Ainda assim, o número total do etanol, proveniente da cana-de-açúcar e do milho, foi de 32,8 bilhões de litros, uma redução de 8,15% em relação à safra anterior, sendo 29,7 bilhões de litros a partir da cana, enquanto o de milho cresceu 80,35% no ciclo, saindo de 1,68 bilhão de litros em 2019/20 para 3,02 bilhões de litros na temporada 2020/21. Neste mesmo período, o volume de açúcar chegou a 41,25 milhões de toneladas, crescimento de 38,46% em relação à safra 2019/20

Mercado de açúcar e etanol

No início da safra 2020/21, houve forte desvalorização do açúcar no mercado internacional, mas com rápida recuperação após aumento das cotações no decorrer da temporada. O preço médio na bolsa de futuros de Nova York em abril deste ano foi de 16,26 centavos de dólar por libra-peso, valor 61,8% acima do observado no mesmo mês em 2020. “O movimento contribuiu para a exportação recorde e ampliação da venda antecipada na temporada 2021/22”, diz a Conab.

Na estimativa da cana-de-açúcar que se iniciou, as exportações mantêm-se em patamares elevados, influenciadas pela continuidade do cenário de preços internacionais atrativos e taxa de câmbio favorável. Em abril, o Brasil exportou cerca de 1,9 milhão de toneladas de açúcar, um aumento de 25,7% em relação a março/21. Com relação ao etanol, a exportação cresceu cerca de 55,1% na safra 2020/21, encerrada em março, quando comparada com o ciclo anterior, mesmo com a redução da produção nacional de etanol no período. O aumento foi favorecido tanto pela taxa de câmbio quanto pela redução da demanda interna.

Neste ciclo de 2021/22, a perspectiva é de que o câmbio permaneça em patamar elevado, mas o crescimento da demanda interna deverá limitar a disponibilidade de etanol para a exportação.

Segundo a Conab, a safra também inicia com perspectiva otimista em relação à recuperação da demanda do etanol brasileiro, que foi prejudicada no ciclo anterior em razão da pandemia. Um crescimento na demanda do petróleo também é esperado para o segundo semestre de 2021, com o maior controle da pandemia, que deverá favorecer a valorização da gasolina no mercado e contribuir para um ganho de competitividade do etanol.

Fonte: Canal Rural 

Produção de soja de São Paulo pode atingir 4,1 milhões de toneladas em 2020/2021

Soja

A safra de soja 2020/2021 poderá consolidar bons volumes de produção em São Paulo, ao redor de 4,1 milhões de toneladas, ainda que o cultivo tenha ocorrido com atrasos, segundo a avaliação do pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Vagner Azarias Martins.

Conforme Martins, o IEA fará nas duas próximas semanas uma avaliação das condições das lavouras de soja e de outras em todo o estado, que será divulgado em maio.

“A colheita de soja está em pleno andamento no estado. Tivemos atrasos no cultivo, mas nos primeiros meses deste ano o regime de chuvas melhorou, o que deve garantir bons níveis de produtividade. Talvez possa haver uma pequena variação nos números frente aos projetados em fevereiro pelo IEA”, comenta ele.

Segundo dados divulgados nesta semana pelo IEA, com base em pesquisa feita no mês de fevereiro, o estado de São Paulo cultivou uma área de 1,159 milhão de hectares de soja, com um aumento de 5,3% ante a temporada 2019/2020, de 1,101 milhão de hectares.

O rendimento médio das lavouras é estimado em 3.548 quilos por hectare, avançando 1,8% frente aos 3.484 quilos colhidos em 2019/2020. A produção de soja do estado deve crescer 7,8% em relação às 3,836 milhões de toneladas colhidas em 2019/2020, atingindo 4,112 milhões de toneladas na safra 2020/2021.

Ritmo da colheita da soja

O mais recente levantamento da consultoria Safras & Mercado aponta que a colheita no estado de São Paulo atinge 98% da área de soja até o dia 16 de abril, contra 94% na semana anterior e 99% no mesmo período do ano passado. Já a média de colheita nos últimos cinco anos para o período é de 99,4%.

A consultoria trabalha com uma estimativa de produção para o estado de São Paulo de 4,294 milhões de toneladas de soja em 2020/2021, 5,5% maior ante 2019/2020. A área cultivada foi projetada em 1,160 milhão de hectares, 5,5% superior a registrada em 2019/2020. A produtividade média deve atingir 3.720 quilos por hectare.

Fonte: Canal Rural